Análise expõe uso coordenado de desinformação por autoridades para influenciar eleições no Brasil

Análise expõe uso coordenado de desinformação por autoridades para influenciar eleições no Brasil

A pesquisa integra o livro State-Sponsored Disinformation Around the Globe que inclui estudos que analisam casos de desinformação patrocinada pelo Estado em 14 países de diferentes regiões.

Autoridades estatais de extrema-direita utilizaram redes sociais de maneira altamente eficaz para espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro, com alta organização e mobilização durante as duas últimas eleições gerais brasileiras, em 2018 e 2022. É o que mostra um estudo realizado pelo líder do Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e Democracia da Universidade Federal de Mato Grosso (Midiáticus-UFMT), professor Bruno Araújo, ao lado das professoras Liziane Guazina (Unb) e Raquel Recuero (UFPel).

Análise expõe uso coordenado de desinformação por autoridades para influenciar eleições no Brasil.

A pesquisa faz parte do livro State-Sponsored Disinformation Around the Globe, publicado recentemente, que reúne estudos sobre desinformação patrocinada pelo Estado em 14 países de diferentes regiões, como Europa, América do Norte e Latina, África, Ásia e Oriente Médio. A obra inclui análises realizadas por uma equipe internacional de especialistas.

O capítulo intitulado “State-sponsored disinformation in Brazil”, único assinado por brasileiros, apresenta uma análise detalhada sobre a disseminação de desinformação patrocinada pelo Estado no Brasil. O estudo mostra como redes sociais, especialmente o Facebook, foram usadas por autoridades ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro para espalhar dúvidas sobre a legitimidade do sistema eleitoral.

O texto contextualiza a história das eleições no Brasil, ressaltando que, apesar da implementação das urnas eletrônicas, desde 2018 houve um aumento nas narrativas que questionam sua segurança. Essas narrativas, promovidas principalmente por Bolsonaro e seus apoiadores, visavam minar a confiança no processo democrático do país.

A análise se concentra no uso das redes sociais para propagar desinformação. Os autores mostram como perfis de autoridades, com milhões de seguidores, desempenharam um papel central na disseminação de teorias da conspiração sobre fraudes eleitorais. Araújo, Guazina e Recuero argumentam que essa estratégia foi muito importante para a campanha bolsonarista, combinando desinformação e populismo para mobilizar eleitores.

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Uma parte significativa do estudo examina a polarização entre grupos de apoio a Bolsonaro e a Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa revela que os grupos bolsonaristas eram mais engajados e organizados na disseminação de desinformação sobre as urnas eletrônicas. “Os dados sugerem que a rede da extrema-direita é muito mais mobilizada em compartilhar conteúdo sobre seu candidato,” escrevem os autores.

Além disso, a pesquisa identificou que as contas de autoridades estatais não só compartilharam uma quantidade significativa de desinformação, mas também ajudaram a legitimar essas narrativas. A credibilidade associada a essas contas, por serem de autoridades públicas, fez com que as mensagens enganosas fossem aceitas por um público mais amplo.

O estudo sugere que as plataformas de mídia social, como o Facebook, ainda enfrentam dificuldades em moderar esse tipo de conteúdo, especialmente quando apresentado como opinião pessoal. Isso cria um ambiente propício para a rápida disseminação de desinformação, enfraquecendo as instituições democráticas e fomentando a polarização política.

Os autores concluem que a disseminação de desinformação por autoridades brasileiras teve consequências graves para a democracia do país, culminando em eventos como os ataques aos prédios do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto em 8 de janeiro de 2023. “Os resultados nos dão pistas importantes sobre o escopo de atuação dos agentes de desinformação dentro do Estado brasileiro e o impacto da lógica populista na comunicação política brasileira”, afirmam.

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